RA - A claque RA foi fundada em meados de Agosto de 2006, por 6 amigos que se começaram a interessar pelo movimento ultra. Na altura tínhamos 14/15 anos e queríamos ingressar em claques dos grandes, mas como com aquela idade seria complicado comparecer aos jogos com regularidade, optámos por criar um grupo local, para o Ginásio Clube de Alcobaça, clube ao qual estávamos ligados por termos praticado, no caso de alguns, ou por ainda praticarmos no caso de outros, futebol nas camadas jovens. Neste momento, é liderada por uma direcção de 4 elementos.
FDL - Qual é o número de sócios da claque e qual a sua média de idades?
RA - Neste momento, estamos a meio dum processo de inscrições/renovações com o objectivo de efectuarmos uma recontagem rigorosa dos nossos associados. Posso dizer-te que começámos à 2 semanas atrás e temos neste momento 31 renovações/inscrições. Julgo que devemos estagnar à volta dos 50 membros. É claro que nunca comparecem todos nos jogos, geralmente somos entre 15 a 20 nos jogos mais comuns e nos derbys rondamos os 30.Um dos objectivos deste ano, tem sido aumentar o número de membros para termos um maior de impacto em Alcobaça e cada vez trazer mais gente aos jogos, o que é difícil porque infelizmente em Alcobaça ( e não só ), a ligação ao clube da terra é quase nula ou mesmo inexistente.
FDL - Ao longo da vossa existência, quer na 3ªNacional, quer agora nos distritais, quais os grupos que encontraram e qual a vossa opinião sobre eles?
RA - Bem, o mínimo que eu posso sentir por esses grupos é respeito! Como sabes, não é fácil criar /manter/dinamizar estes movimentos por estas divisões, sendo que sejam 5 ou sejam 50, merecem os parabéns. No nosso caso, cruzámo-nos com a Fúria Negra (Sourense) enquanto estávamos na 3ª divisão e agora mais recentemente estivemos perto dos Black Bird, do Marrazes. Tenho imensa pena de nunca ter tido uma oportunidade de estar num jogo juntamente com os Ultras Caldas, pois penso que seria um “duelo” interessante, já que eles são um símbolo de mentalidade ultra, e na minha opinião, dos melhores das divisões inferiores em Portugal.Em relação à Fúria Negra, não chegámos a estar propriamente em convívio com eles mas mantemos relações com um dos líderes deles, pela Internet. Pareceram-me um grupo bastante unido, com um núcleo duro apreciável.Quanto à Black Bird, estou bastante curioso para ver se vão aparecer daqui a 3 semanas em Alcobaça, aquando o Ginásio vs Marrazes, porque decepcionaram-me bastante quando comparecemos na Boa Vista para o Marrazes vs Ginásio.
FDL - Têm algum apoio por parte da direcção do clube?
RA - Quando criámos o RA, a primeira coisa que fizemos foi falar com o presidente do Ginásio, que, na altura, era o Sr. Armando Bragança. Ele estabeleceu que os bilhetes para nós seriam gratuitos e forneceu-nos um espaço, que foi a nossa sede até ao inicio deste ano, visto que, entretanto, o GCA precisou daquelas instalações e deixámos de possuir aquele espaço. A nível financeiro, nunca nos foi dado nenhuma ajuda por parte da direcção do Ginásio, o que até pode ser compreensível já que qualquer pessoa de bom senso, sabe as dificuldades que os clubes pequenos atravessam. No entanto, estamos a planear novos projectos para os quais necessitaremos, muito provavelmente, de ajuda… Porque torna-se inviável, por muita vontade que haja, de fazer coreografias para os jogos mais importantes e ao mesmo tempo renovar o material (novas bandeiras, novos cachecóis, etc.). O que já houve, foi apoios por parte de 2 empresas aquando a compra das t-shirts e dos cachecóis (ACMAN) e mais recentemente da nossa bandeira com o símbolo oficial (Cruz de Cristo).
FDL - Qual a vossa relação com os jogadores e com os restantes adeptos do GC Alcobaça?
RA - No início, fiquei com a impressão que o plantel do Ginásio da altura, tinha a sensação que aquilo não seria mais que uma brincadeira de miúdos, pelo que não fomos desde logo reconhecidos pelo nosso esforço. Já por parte dos adeptos, sempre fomos incentivados e ajudados por estes, quer nos peditórios que efectuámos quer por meras palavras de apoio. Mas, hoje em dia, a situação é bem diferente… não há um jogo em que os jogadores não nos agradeçam o nosso apoio. Acho que há acima de tudo respeito, entre nós e eles. Não nos passa pela cabeça deixar de os apoiar, em momento algum, estejam eles a perder ou a ganhar. Aproveito também para lhes agradecer porque estão a realizar um campeonato fantástico e cremos que, se continuarmos assim, vamos chegar ao título!
FDL - Têm algum material alusivo ao grupo?
RA - Sim, temos variado material. A primeira coisa que nós fizemos (paga inteiramente por nós, e que posso adiantar que na altura custou aproximadamente 190€) foi a nossa faixa principal. Depois comprámos um megafone e recuperámos as 5 bandeiras e os 2 tambores do antigo RA. Essas bandeiras estão neste momento guardadas e os tambores ainda usamos, mas apenas um. Mais recentemente lançámos vários produtos, como t-shirts, cachecóis e pins, tudo conectado ao grupo. Adquirimos também a nova bandeira (3x3.5 metros, ao xadrez azul e branco com o nosso símbolo oficial no meio). Actualmente, estamos a planear o lançamento do novo cachecol (visto que os outros já esgotaram), autocolantes, pins diversificados e talvez ainda outra bandeira.
FDL - Têm alguma claque, seja nacional ou internacional, que sirva de modelo?
RA - Nós nascemos numa altura em que os No Name Boys começaram a dar muito que falar no panorama Ultra Português. Fomos “talvez” influenciados por eles e, por isso, admiramos bastante a sua capacidade em criar músicas com grande impacto sonoro e de grande qualidade, assim como as suas famosas “tochadas”. Também gostamos da Juventude Leonina (Juve Leo) no aspecto das músicas.Internacionalmente, a paixão e a intensidade com que os adeptos italianos e ingleses vivem o futebol, não nos passa de longe despercebida… Serve-nos, de certo modo, de exemplo para a forma como vivemos o nosso clube no dia-a-dia. O facto de termos uma admiração especial pelos NN também deriva daí, porque na nossa opinião, são o grupo em Portugal que mais se assemelha a estas formas de viver o clube.
FDL - Muitas vezes as claques são referenciadas como pólos geradores de violência o que têm a dizer sobre isso?
RA - No nosso caso, não temos muito esse problema… Mas é claro que conhecemos bem essa questão. Como se sabe, Portugal em relação ao exterior, ainda tem mentes muito fechadas e retrógradas. E quanto às claques não iriam ser diferentes, pelo que quando se diz aos pais ou a alguém da família que se é duma claque, tomo a liberdade de apostar que em 90% desses casos eles ficam desiludidos. Mas continuando, penso que nas claques há de tudo! Há pessoas informadas, cultas, boas, trabalhadoras e há ladrões, toxicodependentes, ilegais, por aí. O que não se pode fazer é generalizar, que é o que é feito na maior parte das vezes, porque uma claque não é um conjunto de bandidos mas sim um conjunto de pessoas, que vivem o clube duma forma diferente e que não conseguem simplesmente estar sentados a ver o jogo.
FDL - E para finalizarem, querem acrescentar alguma coisa?
RA - Quero dizer a todos que fazem parte duma claque dum clube pequeno, para não desistirem! Às vezes a situação pode parecer má, podem perder a vontade, mas não desistam, porque melhores tempos virão! Nunca dêem o braço a torcer por aquilo que acreditam, porque do que vocês estão a fazer, muito poucos são capazes! Lutem pelo lema “ Support Your Local Team”, unam-se contra o futebol dos grandes! Para os adeptos em geral deixo a seguinte mensagem: O futebol não é só na Liga Sagres, cá para baixo também existe futebol, e, por vezes, vale mais pagar 5€ para ver uma equipa da distrital que 7.5€ para ver muitas equipas da primeira divisão! Porque não começarem a ir ver os jogos do clube da vossa terra? Porque não dizerem aos vossos amigos o mesmo e passarem todos uma tarde agradável a ver o vosso clube, o clube da vossa terra? Se todos ajudar-mos, o futebol pode voltar a ser o que era!Por fim, deixo os parabéns ao Tanque pelo trabalho que faz neste blog. Tens todo o mérito neste projecto, é sempre bom vir aqui aos domingos à noite e ter os resultados todos a mão. Não desistas, porque tu também és um espelho da luta contra o futebol dos grandes!
Um abraço a todos!